História

                                 

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    • 60 ex-membros do CA Paulistano - inclusive jogadores - reuniram-se, então, com sócios e dirigentes da AA das Palmeiras. A princípio especulou-se também a inclusão da AA São Bento nesta assembléia - pois o clube celeste também detinha o uso de um campo na região da Floresta, o estádio da Ponte Grande - mas os sambentistas desistiram da união e não compareceram.
      Assim, na Praça da República, nº 28, no sábado, 26 de janeiro de 1930, era assinada a ata de fundação do São Paulo Futebol Clube.
      A ideia original era fazer coincidir o nascimento da nova agremiação com o aniversário da cidade - como um presente aos paulistanos -, mas os estatutos não ficaram prontos a tempo. As linhas iniciais desse primeiro documento oficial diziam o seguinte:
      "O São Paulo Futebol Clube é uma instituição fundada pelos sócios aficcionados do esporte de futebol do Club Athletico Paulistano e pela Associação Athletica Palmeiras, destinada a proporcionar aos seus sócios a prática de todas as modalidades de esporte".
      Nas assinaturas presentes na ata de fundação constam os nomes de Edgard de Souza, Alberto Hugo de Oliveira Caldas, Gastão Rachou, Benedicto Montenegro, José Martins Costa, João Baptista da Cunha Bueno, Caio Luís Pereira de Souza, Samuel Toledo Filho, João Oliveira de Barros, Paulo Novaes de Barros, Clodoaldo Caldeira, Luiz Fernando do Amaral, Joaquim da Cunha Bueno Netto, Leonel Benevides Rezende, Augusto Portugal dos Santos, Duffles de Camargo Bueno, Paulo Machado de Carvalho, Arnaldo Alves da Motta, Névio Nogueira Barbosa, Augusto de Castro Leite, Mário da Cunha Bueno, Alcino Vieira de Carvalho, Luiz Marcondes de Moura e Marcello Paes de Barros. Posteriormente, chegou-se a 205 sócios considerados fundadores do São Paulo FC.
      Edgard de Souza foi eleito o primeiro presidente. O restante da diretoria: Primeiro Vice: Alberto Caldas; Segundo Vice: Gastão Rachou; Terceiro Vice: Dr. Benedito Montenegro; Primeiro Secretário: Dr. Luiz Oliveira Barros; Segundo Secretário: Dr. José Martins Costa; Primeiro Tesoureiro: João Baptista da Cunha Bueno; Segundo Tesoureiro: Dr. Caio Luiz Pereira de Souza. Presidente do Conselho Fiscal: Dr. Samuel Toledo Filho. Presidente do Conselho Deliberativo: Julio Mesquita Filho.
      O Conselho Deliberativo foi formado por 18 integrantes, nove provenientes da AA das Palmeiras, e nove do CA Paulistano.
      No domingo, 3 de fevereiro, o clube já alinhava seus jogadores para seu primeiro treinamento. O time A utilizando as camisas do Paulistano, e o B, as das Palmeiras. João Chiavone comandou o treino, e, curiosamente - reza a lenda -, foi dispensado logo após, pois escalou Friedenreich e Araken Patusca, os craques do elenco, no time B (que saiu derrotado por 4 a 1).
      A primeira apresentação do novo time ao público foi no Torneio Início do Campeonato Paulista, realizado eu seu próprio campo, na Chácara da Floresta. O São Paulo FC, já com seu uniforme tradicional, venceu o CA Ypiranga por 3 a 0 (Gols de Formiga, Araken Patusca e Friedenreich). Por ser um jogo-exibição, de 20 minutos de duração, esta partida não é considerada, oficialmente, a primeira da história do clube.
      O primeiro jogo oficial foi contra o mesmo CA Ypiranga, mas no dia 16 de março de 1930: 0x0, em jogo válido pelo Campeonato Paulista.

      • SÃO PAULO Futebol Clube 0 x 0 Clube Atlético YPIRANGA
      16.03.1930
      Campeonato Paulista
      São Paulo (SP)

      Estádio da Chácara da Floresta
      CAY: Joãozinho; Ziza e Zaca; Japonês, Guanabara e Russel; Salvador, Guinda, Pierino, Barruso e Álvaro.
      SPFC: Nestor; Clodô e Barthô; Boock, Zito e Alves; Luizinho, Milton, Friedenreich, Mário Seixas e Zuanella. Técnico: Rubens Salles
      Árbitro: Cid Rosso
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      Em meio ao clima da Copa do Mundo de 1934, uma crise administrativa assolava o futebol brasileiro. A disputa amadorismo x profissionalismo ainda seguia a pleno vapor, causando problemas também para a Seleção Brasileira. A única entidade nacional reconhecida pela FIFA era a CBD, no caso, amadora. Desde 1933, porém, os principais clubes nacionais já eram profissionais e filiados a FBF. No eixo RJ-SP, todos, exceto o Botafogo.
      Houve grande pressão para que os clubes profissionais liberassem seus atletas convocados para a amadora CBD, o que causou revolta entre os dirigentes. Um clube chegou a esconder (e trancafiar) seus jogadores em fazenda no interior. Do São Paulo, foram convocados Luizinho, Armandinho, Waldemar de Brito e Sylvio Hoffmann. O clube não liberou os atletas, mas a medida não foi o suficiente e a CBD os pirateou mesmo assim. Obviamente, os dirigentes são-paulinos ficaram enfurecidos.
      O conflito de bastidores não se resumiu à esfera nacional. O racha chegou à APEA, a federação estadual. Devido à perda de poder da FBF, à qual a APEA era subordinada, o Palestra Itália (justamente o clube que escondera jogadores no interior), lidera a fundação da LPF e se sujeita à antes inimiga CBD. Em breve seria seguido por outros clubes paulistanos.
      Isolado politicamente, o Tricolor permaneceu na APEA o quanto pôde, sendo o último clube grande a aderir a LPF e a engolir a CBD. Este fato dividiu os dirigentes, conselheiros e sócios do São Paulo FC. Muitos nunca admitiriam o cabresto daquela entidade. Por já estarem fartos de, dia após dia, conviverem com o caos federativo, uma comissão conjunta aprovou, em 26 de janeiro de 1935, por dez votos a dois, um estudo de fusão com o CR Tietê. A idéia era deixar o futebol e suas intrigas políticas de lado, concentrando-se somente nos esportes amadores (afinal, a fusão CR Tietê-São Paulo FC produziria o maior clube social do Brasil).
      Para justificar essa ação desproporcional aos que não queriam deixar a herança do CA Paulistano morrer, alardeou-se uma suposta dívida contraída após a compra de uma luxuosa sede de gala, o famoso Palácio do Trocadero, em 1934. A tal dívida, em seu total, era de 214 contos de réis. Como bem retrata o livro História do Futebol no Brasil, do consagrado jornalista Thomaz Mazzoni, tudo não passou de pretexto. Esse montante, como argumenta o autor, seria facilmente coberto pelo valor do passe de 2 ou 3 craques do elenco, que contava com o maior jogador brasileiro de sua época: Friedenreich.
      Em verdade, a própria receita gerada pelo departamento de futebol seria suficiente. Como exemplo, só em 1933 o clube arrecadou 381 contos de réis. Dinheiro não era desculpa. A decisão foi política. Tamanha foi a repercussão da filiação à CBD e da proposta de fusão que o presidente Edgard de Souza Aranha renunciou, em 7 de março de 1935.
      Novamente a fusão foi posta em pauta em reunião de Diretoria e Conselho, no dia 12 de março, e mais uma vez o resultado foi favorável. Com isso, até mesmo os jogadores, liderados por Araken Patusca - o capitão do time -, se rebelaram publicamente contra, pois queriam continuar a jogar sob as cores do SPFC. Punidos pela diretoria, fundaram então o Independente Esporte Clube, em 25 de março de 1935, que usava as mesmas cores do São Paulo.
      O destino do clube foi definido em 14 de maio, em Assembléia Geral. Ou, melhor, nem tão geral assim. Pelo artigo 2º dos estatutos, definiu-se que somente os 205 sócios considerados fundadores poderiam participar de tal Assembléia, e não a totalidade dos sócios (mais de 2 mil). Destes aptos, somente 151 estavam em condições de voto ou vivos.
      Finalizado o plebiscito, 113 sócio-fundadores optaram pela fusão, 33 se abstiveram, e somente 5 foram contra essa decisão. Assim foi decidido oficialmente o fim do São Paulo FC de outrora e sua decorrente fusão com o CR Tietê, formando assim o Clube de Regatas Tietê-São Paulo, também tricolor.
      Como em 1929, os descontentes se mobilizaram e mais uma vez lutaram para manter viva a glória antes conquistada. A luta foi sofrida e o caminho, longo, mas nada impediria que aquele que viria a ser conhecido como o Clube da Fé voltasse a campo. Não foi em três dias, ou três meses depois, mas o São Paulo FC renasceu.
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      "O São Paulo Futebol Clube, fundado na cidade de São Paulo, onde tem foro e sede, em 16 de dezembro de 1935, preservador das glórias e tradições do São Paulo Futebol Clube, da Floresta, o qual foi fundado em 25 de janeiro de 1930 e extinto em 14 de maio de 1935, é uma Entidade de Prática Desportiva, constituída na forma de associação civil sem fins econômicos com prazo de duração indeterminado e que tem total autonomia de organização e funcionamento, de conformidade com o inciso I do artigo 217 da Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 05/10/1988.
      O dia 25 de janeiro é considerado data magna do São Paulo Futebol Clube, em homenagem à primeira partida oficial de futebol do Clube."
      Artigos iniciais do atual Estatuto do São Paulo Futebol Clube.
      Manoel do Carmo Meca, Cid Mattos Viana, Francisco Pereira Carneiro, Éolo Campos, Manoel Arruda Nascimento, Izidoro Narvaes Caro, Francisco Ribeiro Carril, José Porphyrio da Paz, Eduardo Oliveira Pirajá, Frederico Antônio Germano Menzen, Francisco Bastos, Sebastião Portugal Gouvêa, Dorival Gomes dos Santos, Deocleciano Dantas de Freitas e Carlos A. Azevedo Salles Júnior.
      Ao todo, quinze homens que não deixaram o sonho do torcedor são-paulino desaparecer ao se encontrarem no escritório do advogado Silvio Freire, na Rua Onze de Agosto - atual Praça da Sé -, para perpetuarem o renascimento do São Paulo Futebol Clube. Outros 73 tricolor assinaram, posteriormente, a ata de fundação datada de 16 de dezembro de 1935.
      Manoel do Carmo Meca foi eleito o primeiro Presidente, e a diretoria foi composta da seguinte forma: Vice-Presidentes: Alcides Borges, Francisco Pereira Carneiro; Secretário: Luiz Felipe Paula Lima; 1º Tesoureiro: Manoel Arruda Nascimento; 2º Tesoureiro: Izidoro Narvaes; Diretor Geral de Esportes: Tte. José Porphyrio da Paz; Representante junto a Liga Paulista: Frederico Antônio Germano Menzen.
      Daquele clube que antes veio ao mundo em berço esplêndido, somente a Fé restara. A fé que, degrau por degrau, escalou o Mundo, conquistando honras muito maiores que as glórias do passado. Do reinício, no fundo de um porão alugado na Praça Carlos Gomes - a sede do clube de 1936 à 1937 -, ao Tricampeonato Mundial Interclubes, em 1992, 1993 e 2005.
      A jornada iniciou-se em 21 de janeiro de 1936, no primeiro treinamento da nova equipe, que agora não contava com jogadores de renome ou grandes promessas. Na Rua da Moóca, um sonoro 7 a 3 contra o CA Paulista. Dois dias depois, novo coletivo e uma auspiciosa vitória por 3 a 2 sobre o Palestra Itália, no Parque Antárctica.
      Era chegada a hora da estreia oficial. 25 de janeiro de 1936: a cidade festejava seu aniversário, enquanto o clube se preparava para entrar em campo. Faltava, entretanto, autorização municipal para promover evento paralelo às festividades oficiais. Correu então o fundador Porphyrio da Paz para obter a certificação necessária junto ao Secretário da Educação, o Dr. Cantídio Campos. A liberação veio prescrita em um receituário médico do doutor.
      Tudo certo fora das quatro linhas. Dento de campo, a partida realizada no Parque Antárctica contra a Associação Atlética Portuguesa, de Santos, terminou com vitória do São Paulo, por 3 gols a 2. A honra do 1º gol do Tricolor refundado coube a Antônio Bertoletti, o Antoninho.

      SÃO PAULO Futebol Clube 3 X 2 Associação Atlética PORTUGUESA
      25.01.1936

      Amistoso Nacional
      São Paulo (SP)
      Estádio Palestra Italia (Parque Antarctica)

      SPFC: King; Ruy e Picareta; Ferreira (Julio Colosso), José e Segoa; Antoninho, Hermenegildo Gabardo, Juca (Gutiérrez), Carazzo e Paulinho.
      Técnico: Armando del Debbio
      Gols: Antoninho, 5/1; Carazzo, 8/2; Carazzo, 20/2

      AAP: Ratto; Romeu e Teixeira; Del Popollo, Archimedes e Argemiro; Vega, Armandinho, Orlando (Franco II), Tim e Gildo.
      Técnico: Desconhecido
      Gols: Ruy (contra), 43/1; Franco II, 20/2

      Árbitro: Heitor Marcelino Domingues
      Público: 3.000 pagantes
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      Após a união com o Estudantes Paulista, o São Paulo FC necessitava de maiores e melhores instalações para seus associados. Assim, transferiu sua sede administrativa para o Edifício Santa Victória, um prédio situado na Rua Dom José de Barros, 337. Já os jogos eram realizados no Estádio Antônio Alonso, na Rua da Moóca.
      O estádio era pequeno, acanhado. Em pouco tempo não supriria mais as necessidades do clube, de torcida vibrante e crescente. Nessa época, a Prefeitura terminava a construção do Estádio Municipal do Pacaembu, que seria inaugurado em 27 de abril de 1940. Batizado com o nome do presidente são-paulino Paulo Machado de Carvalho, o Marechal da Vitória, em 1961, o estádio possui vínculo com o Tricolor desde muito antes.
      Em junho de 1930, foi noticiado que o SPFC levaria a cabo a construção do grande estádio de futebol da cidade, naquela mesma região doada pela Companhia City ao Estado de São Paulo quatro anos antes. Como o Governo nada fez nesse período, a City revogou a doação a fim de destiná-la a outros interessados. Apesar da declaração são-paulina, a Cia repassou o terreno à Prefeitura, em 1935.
      No evento de inauguração, em 1940, as delegações desfilaram para o público e para o presidente Getúlio Vargas, que não era lá muito bem quisto em todo o estado desde a Revolta Constitucionalista de 1932. Quando a bandeira do São Paulo FC entrou em cena, todos os presentes, são-paulinos, corinthianos, palestrinos e paulistanos em geral gritaram: São Paulo! São Paulo! São Paulo! Enquanto apontavam para a tribuna de honra, onde se encontrava o presidente.
      A quem duvidar, o relato do jornal Folha da Manhã, então propriedade da família Matarazzo:
      "O público esportivo propriamente dito demonstrou quanto é querido o S. Paulo F.C., pois, ainda que apresentasse pequena turma, recebeu calorosas palmas, sendo o seu nome ovacionado deliberadamente"
      Getúlio, fingindo espanto e desconhecimento do protesto, teria comentado que, ao visto, o São Paulo era o clube mais querido da cidade. No dia seguinte, os jornais estampavam "O Clube Mais Querido da Cidade", frase que desde então virou marca oficial do SPFC, encontrada até hoje em seus documentos.
      Não bastasse, pouco tempo depois do Departamento Estadual de Imprensa e Propganda, o DEIP, promoveu um concurso público para confirmar, com métodos científicos, quem, de fato, era o clube mais querido da cidade. Não deu outra. Apesar do favoritismo dos rivais mais velhos, a torcida são-paulina se destacou preponderantemente. Foram 5.523 votos, mais do que SCCP e Palestra somados (2.671, 2.593).
      Oficialmente, desde então, o São Paulo Futebol Clube é O Clube Mais Querido da Cidade.


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